DETERMINAÇÃO SEXUAL CROMOSSÔMICA
A estrutura do cromossomo Y e seu papel no desenvolvimento sexual foram determinados tanto no nível molecular quanto no nível genômico. Na meiose masculina, os cromossomos X e Y normalmente ficam pareados por segmentos nas pontas de seus braços curtos e sofrem recombinação nesta região. O segmento pareado inclui a região pseudo-autossômica dos cromossomos X e Y, assim chamado porque as cópias ligadas ao X e Y desta região são homólogas e sofrem recombinação homóloga (crossing-over) na meiose I, como os pares de autossomos
Em comparação com os autossomos e o cromossomo X, o cromossomo Y é relativamente pobre em genes, devendo conter menos de 50 genes. Entretanto, as funções de uma grande proporção destes genes estão relacionadas ao desenvolvimento gonadal e genital.
O gene SRY (região determinante do sexo no Y) fica perto do limite pseudo-autossômico no cromossomo Y, está presente em muitos homens 46,XX e é deletado ou limitado em uma proporção de pacientes femininos 46,XY o que implica fortemente o SRY na determinação sexual masculina. O SRY é expresso apenas brevemente no início do desenvolvimento em células da crista germinal pouco antes da diferenciação dos testículos. O SRY codifica uma proteína de ligação ao DNA que provavelmente é um fator de transcrição.
O conceito atual é que a diferenciação da gônada é determinada pela ação coordenada de uma seqüência de genes que normalmente levam ao desenvolvimento testicular quando há presença do Y e de produto como o fator de desenvolvimento testicular (TDF); se não há cromossomo Y, o desenvolvimento se estabelece na via ovariana.
DIFERENCIAÇÃO SEXUAL GONADAL
Até a sexta semana o embrião é neutro sob o ponto de vista sexual, pois suas gônadas são indiferenciadas, mistas, bissexuais. Nesse estágio, elas são duas pregas ou cristas gonadais que contém certo número de células germinativas primordiais. Contêm também cordões sexuais formados pela multiplicação das células da superfície da gônada.
A partir da sexta semana de vida embrionária, inicia-se a diferenciação da gônada bissexual para testículo ou para ovário, conforme o embrião possua ou não cromossomo Y. Se existir pelo menos um cromossomo Y, os cordões sexuais se multiplicam na porção medular (interna) da gônada formando os cordões seminíferos que, por sua vez, originarão os canais seminíferos.
Na ausência de cromossomo Y, os cordões sexuais degeneram na região medular mas, em compensação, desenvolve-se o córtex da gônada. A partir daí destacam-se para o interior, grupos de células que constituem os folículos primordiais.
As diferenças genéticas entre o macho e a fêmea são mínimas, representadas por alguns genes localizados no cromossomo Y, responsáveis pela organização dos testículos.
A partir da diferenciação da gônada bissexual a constituição cromossômica do embrião deixa de influir na diferenciação sexual, que passa a ser controlada inteiramente por hormônios.
As células produtoras de hormônios no testículo fetal são as células de Sertoli, que ficam nos canais seminíferos, e produzem o hormônio antimülleriano (AMH) e as células de Leydig, localizadas entre os canais seminíferos responsáveis pela produção de hormônios androgênicos, particularmente a testosterona.
Nos testículos, as células produtoras de hormônios masculinos formam-se precocemente, enquanto que nos ovários as células equivalentes, produtoras de hormônios femininos, só se formam mais tarde. A precocidade na produção de hormônios masculinos é importante porque tanto os embriões masculinos como os femininos vivem no útero, um ambiente dominado por hormônios femininos. Por isso, quando não há nenhum estímulo representado por hormônios do próprio embrião, desenvolvem-se estruturas genitais femininas, enquanto que se esse estímulo existir, as estruturas femininas são inibidas, desenvolvendo-se em seu lugar os genitais masculinos.
O hormônio antimülleriano é produzido desde a oitava semana até a ocasião do nascimento. Sua ação consiste em provocar a autodigestão dos dutos de Muller e restringe-se ao local onde é produzido. A testosterona começa a ser produzida na nona semana de gestação, atinge o máximo por volta do quarto mês, cessa no quinto mês e só volta a ser produzida na puberdade; sua ação é provocar a diferenciação dos dutos de Wolff que formarão os genitais internos masculinos.
Os dutos de Wolff e de Müller são dois pares de canais que, por volta da sétima semana de desenvolvimento, existem tanto nos embriões cromossomicamente masculinos como nos femininos. A partir da oitava semana, os hormônios masculinos determinam o desenvolvimento dos dutos de Wolff e a atrofia dos dutos de Müller, enquanto que no sexo feminino, faltando os hormônios embrionários masculinos, ocorre o contrário, ou seja, desenvolvem-se os dutos de Müller e atrofiam-se os de Wolff. Com isso, tem início a formação dos genitais internos masculinos e femininos.
No embrião masculino, cada duto de Wolff em desenvolvimento originará um epidídimo, um canal deferente e uma vesícula seminal. No embrião feminino, os dois dutos de Müller desenvolvem-se e formam os dois ovidutos (ou tubas uterinas), o útero e a parte superior da vagina; o útero e a vagina são únicos porque derivam da soldadura dos dois dutos müllerianos.
DIFERENCIAÇÃO SEXUAL FENOTÍPICA
A próxima fase do desenvolvimento sexual é a diferenciação da genitália externa que, nos embriões indiferenciados, é constituída por um, tubérculo genital, duas pregas e duas saliências genitais.
No início do terceiro mês de gestação de um feto masculino, a testosterona produzida nos testículos é transformada em sua forma ativa, a 5-α-dihidrodrotestosterona, dentro das células das estruturas genitais externas. Sob o estímulo desse hormônio, o tubérculo genital cresce bastante e forma a glande do pênis; para a formação do corpo do pênis colaboram as pregas genitais que, ao fim do terceiro mês de gestação, se fecham.
Além da genitália, vários órgãos são marcados pelo hormônio masculino e, na puberdade, respondem de acordo com um padrão masculino. Alguns desses padrões são: a secreção do hormônio gonadotrófico pelo hipotálamo, a maneira como o fígado metaboliza hormônios, o amadurecimento das glândulas anexas, a determinação de características do comportamento. Os testículos começam a descer para a bolsa escrotal a partir do sétimo mês de gestação, completando sua descida pouco antes do nascimento ou até o segundo mês após o nascimento.
Se a gônada embrionária for um ovário, falta a testosterona. Nesse caso, o tubérculo genital cresce pouco e forma o clitóris; por outro lado, as pregas genitais e as saliências genitais permanecem abertas e constituirão, respectivamente, os pequenos e os grandes lábios da vulva. Os ovários não têm função na diferenciação da genitália externa. Por isso, enquanto o sexo feminino é constitucional, o masculino é induzido, ou seja, para ocorrer a determinação sexual masculina há necessidade de uma ação ativa dos hormônios masculinos; eventuais faltas nessa ação, em qualquer momento da vida, podem determinar alterações sexuais.
Resumindo:
A diferenciação sexual ocorre através de uma série de acontecimentos sucessivos e integrados: Formação do sexo cromossômico do zigoto à formação da gônada bissexual à diferenciação da gônada à diferenciação da genitália interna e diferenciação da genitália externa à diferenciação dos caracteres sexuais secundários.